...do uso da máquina

"Qual a posição de Uma Certa Tendência perante o uso da máquina como forma de obtenção dos seus objectivos? Ou Uma Certa Tendência promove apenas o trabalho manual?"

Tenho andado a pensar na questão que me colocou e cheguei a algumas conclusões que posso expor neste simpático blog.
Partilhamos o nosso espaço e tempo com as máquinas e por vezes pouca atenção lhes damos. Aliás, na nossa vida quotidiana, o relevo que lhes é dado é tão reduzido que se traduz numa relação puramente utilitária, na qual a máquina “serve” uma determinada função ou funções (multiusos). No entanto a máquina (termo genérico) tem uma importância tal que no meio académico se considera que a passagem de uma relação subserviente entre a máquina e o homem, para uma relação de igualdade poderá levar no futuro, já não muito longínquo, a máquina a ultrapassar o homem e a tomar decisões por si mesma – inteligência artificial! É um risco que corremos, perante o qual o mundo científico se divide: pró ou anti tecnologia. Para uns uma excitação macabra que serve de motor para o desenvolvimento sem limites de gadgets, robots e outras ramificações tecnológicas, para outros o pânico de perder o verde da floresta e o azul do mar em favor de realidades virtuais.

E nós como nos posicionamos?
Nós, que aparentemente operamos apenas com as mãos, batemos palmas, dançamos, escrevemos, divertimo-nos e usamos sempre a outra mão para tudo, não menosprezamos a máquina. Estamos fora do fanatismo cyborg e do extremismo reaccionário de quem preferia voltar a mugir o leite às vacas do que comprar um pacote de leite, e preferimos uma posição moderada. Convivemos bem com as máquinas e estamos conscientes da sua utilidade. Diferenciamo-nos do utilizador comum, no sentido em que atribuímos à máquina características subjectivas. Ou seja, criamos na nossa relação com a máquina uma nova dimensão: a dimensão afectiva. Respeitamos a máquina enquanto tal, na sua diferença em ser exactamente máquina, mas aproximamo-nos delas como se fosse um de nós. Não receamos nada nesta relação que mantemos porque nos é favorável. Como já referimos várias vezes gostamos do gozo que nos dá fazer uso da outra mão e ajudar o nosso próximo também com a outra mão e ser ajudado. A máquina pode ser uma outra mão. Ou quantas mãos quisermos! Mãos que acrescentamos às mãos de carne, osso, músculo e pele. Consideramos que na falta de uma mão amiga, a máquina é um bom substituto ou até um complemento à mão. Posto isto, que oposição poderiamos manter com a máquina? Absolutamente nenhuma.

Aliás, não sei se é totalmente possivel a um recém chegado perceber o que escrevo, no entanto, para os mais esclarecidos como eu, rapidamente podemos criar a imagem de um desfile de humanos e máquinas de braços cruzados, mãos dadas e dedos enterlaçados numa bonita comunhão de afectos.
A Utopia cyborg está para nós ainda distante e pessoalmente não me sinto com disposição para a comentar. No entanto, se acontecer estaremos preparados para lhe dar as boas vindas se, de facto, se materializarem muitos dos nossos sonhos de felicidades (várias vezes referidos no manifesto da certa tendência e em outros comunicados) e se assistirmos a demonstrações de alegria colectiva.

Gostaria de terminar com o seguinte, a honestidade da máquina é mecânica, é regularmente honesta. E a nossa? Poderá existir uma vantagem no uso da máquina em relação ao uso de uma mão suspeita. Segui sempre o lema da confiança (se uma pessoa confia no próximo, essa pessoa é de confiança!), mas ainda assim, a companhia de uma máquina está para além da sua utilidade, está, isso sim, na sua presença verdadeira e total. A máquina não se distrai, não se alheia temporariamente, está ali.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá, levei este texto para um assunto que me é querido - a minha extensão sexual. Não sei se o autor deste texto estará em sintonia com o meu pensamente ou se até o rejeitará por completo, mas para mim, a máquina é um acrescento à minha performance sexual. Costumo usar diferentes "gadgets" com os parceiros (com os quais partilho totalmente a minha intimidade) e recorro a diferentes brinquedos, dos convencionais aos mais inovadores, para obter e lhes dar prazer! O que pensam disto?

Anónimo disse...

Esqueci-me de referir o meu género, mas neste caso, não me parece importante porque o que eu gostaria que se percebesse do meu comment é que a minha sexualidade é multipla! E o uso da máquina permite que tal aconteça, que eu ultrapasse os meus limites fisicos de quem é rapaz ou rapariga!
Mais uma vez obrigada! Gosto dos vosso blog!

Anónimo disse...

Caro/a anónimo/a,

Foi com grande prazer que lemos o seu testemunho!!
As máquinas são por nós queridas também no campo sexual: das maiores (máquinas de lavar) às mais pequenas; sejam gadgets, acrescentos, ou outra coisa qualquer, todas elas podem ser encaradas como mais-valias na procura incessante do prazer!! E isso é o realmente importante!!!
Ficamos contentes por, através do uso da máquina, dar uma mãozinha aos seus amigos; é bonito!! É celebratório!! Que mais poderemos desejar?
Por fim, gostaríamos ainda de mencionar que aplaudimos a sua sexualidade múltipla!!! Parece-nos ser de facto honesto, autêntico e feliz!!! E isso é que importa!!
Viva a diversidade! Viva a multiplicidade! Viva a vida na sua complexidade e felicidade!!
YEAH!